Miguel Gomes vence prémio de melhor realização no festival de Cannes com "Grand Tour"

por RTP
EPA

O realizador português Miguel Gomes venceu o prémio de melhor realização do Festival de Cinema de Cannes, em França, pelo filme "Grand Tour".

É a primeira vez que Miguel Gomes é distinguido na competição oficial do festival de Cannes.

Miguel Gomes recebeu o prémio das mãos do cineasta alemão Wim Wenders e num curto discurso agradeceu ao cinema português, sublinhando a raridade que é haver filmes portugueses na competição oficial, e estendeu o agradecimento a "grandes cineastas" como Manoel de Oliveira, que o inspiraram a fazer cinema. A curta-metragem de Daniel Soares estava na secção que atribuiu a Palma d’Ouro a Arena, de João Salaviza, em 2009. O filme de Daniel Soares fez a estreia mundial em Cannes.

Há 18 anos, em 2006, na competição de longas-metragens esteve "Juventude em Marcha", de Pedro Costa.

A ministra da Cultura já veio felicitar, "em especial Miguel Gomes, que venceu o prémio de melhor realização, com “Grand Tour”, e Daniel Soares, que recebeu uma menção especial com “Bad for a moment”".

"Grand Tour", a determinação das mulheres

A história de "Grand Tour" segue um romance de início do século XX, com Edward (Gonçalo Waddington), um funcionário público do império britânico que foge da noiva Molly (Crista Alfaiate) no dia em que ela chega para o casamento.

"Contemplando o vazio da sua existência, o cobarde Edward interroga-se sobre o que terá acontecido a Molly... Desafiada pelo impulso de Edward e decidida a casar-se com ele, Molly segue o rasto do noivo em fuga através deste `Grand Tour` asiático", refere a sinopse.

Esta semana, em conferência de imprensa em Cannes, Miguel Gomes, 52 anos, explicou que "Grand Tour" é um filme "sobre a determinação das mulheres e a cobardia dos homens" e tem ainda como ponto de referência um livro de viagens, "Um gentleman na Ásia", de Sommerset Maugham.

Na preparação deste filme, ainda antes da pandemia da covid-19, Miguel Gomes fez um arquivo de viagem pela Ásia -- por exemplo, Myanmar (antiga Birmânia), Vietname, Tailândia, Japão -, para traçar o trajeto das personagens, recolhendo imagens e sons contemporâneos para uma longa-metragem de época de 1918.

Só depois desse périplo, Miguel Gomes rodou as cenas com os atores em estúdio, em Roma. O argumento é coassinado pelo cineasta com Mariana Ricardo, Telmo Churro e Maureen Fazendeiro.

"O que é interessante no cinema é que se pode viajar para um mundo alternativo, um mundo ficcional que contém todos os tempos; as memórias do tempo passado, o tempo atual em que vivemos, o presente", disse Miguel Gomes na mesma conferência de imprensa.

"Grand Tour" foi produzido por Uma Pedra no Sapato, de Filipa Reis, em coprodução com Itália, França, Alemanha, China e Japão.

Miguel Gomes soma vários prémios em festivais internacionais, nomeadamente o prémio da crítica do festival de Berlim com "Tabu" (2012), o prémio de melhor realizador (repartido com Maureen Fazendeiro) no Festival Mar del Plata (Argentina) com "Diários de otsoga" (2021) e o prémio especial do júri em Guadalajara (México) com "Aquele querido mês de agosto" (2009).

A 77.ª edição do Festival de Cinema de Cannes começou no dia 14 e termina este sábado.

 

c/Lusa

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